Pinto Martins merece

"A administradora do Aeroporto de Fortaleza, a Fraport Brasil, subsidiária da alemã Fraport AG Frankfurt Airport Services Worldwid, está no centro de uma polêmica desde que resolveu tirar o nome de Pinto Martins da identificação do terminal aéreo. O aviador cearense é tido como realizador e pioneiro da rota entre Nova York e Rio de Janeiro.

As queixas pela retirada do nome de Pinto Martins estão partindo da imprensa, dos familiares do piloto e ganhou coro até do parlamento estadual. O governo do Estado, no entanto, tem se mantido distante da pendenga.

No aeroporto de Porto Alegre, também controlado pela Fraport, a operadora excluiu o nome do magistrado e político gaúcho Salgado Filho da fachada do terminal. Não se sabe de nenhuma reivindicação por lá. Já o caso do aeroporto de Fortaleza tem outra conotação. Pinto Martins foi um piloto, fez um voo histórico entre 1922 e 1923 a bordo de um hidroavião e tem seu nome ligado a história da aviação, não só do Ceará, mas do Brasil. Foi a partir desse feito que companhias aéreas americanas iniciaram voos comerciais para o Brasil utilizando a rota traçada por Pinto Martins.

A cidade francesa de Saint-Denis, conhecida dos brasileiros por ser sede do Stade de France, um dos mais modernos estádios de futebol da Europa, pode servir de exemplo comparativo de como os heróis do passado são preservados. Lá, o aeroporto homenageia o aviador Roland Garros, natural do local. Aliás, a França sempre exige zelo e respeito pelos ícones do seu passado.

O nome do aviador francês Roland Garros talvez seja mais lembrado dos brasileiros pela realização do charmoso campeonato de tênis de Paris, muito embora ele nunca tenha se destacado na modalidade esportiva. Roland Garros, com o nome no principal aeroporto de Saint-Denis é, assim, duplamente lembrado em seu país.

Que o exemplo francês sensibilize a Fraport a manter o antigo nome do aeroporto de Fortaleza. Uma merecida homenagem ao ilustre aviador cearense".

(Transcrição do artigo de autoria deste jornalista, publicado na sessão "Opinião", do jornal O Povo, no dia 27 de julho de 2019)